De início, vamos esclarecer a diferença básica entre o iPad e outros tablets; aliás, é importante destacar: o iPad é um tablet. E o objetivo não é falar bem ou mal, desta ou daquela marca, apenas compartilhar uma experiência prática.
Há outros tablets, de outras marcas, a maioria com Android. São diversos fabricantes, cada um fazendo seu próprio equipamento (hardware), mas usando um sistema operacional em comum, chamado Android, criado pelo Google. Este sistema operacional é feito para funcionar (de certa forma) em “qualquer equipamento” (tem até projeto de satélite com Android). Logicamente, há tablets e smartphones com este software — os mais famosos são da fabricante Samsung. É preciso dizer que estes não são os únicos tablets. Há equipamentos e sistemas operacionais de outras empresas, como o Windows, da Microsoft, por exemplo, e outros, mas ainda são pouco representativos no mercado.
Aplicativos
Os programas para tablets são chamados de aplicativos. Os de iOS estão todos exclusivamente na loja de aplicativos da Apple, chamada App Store, e são todos “vistoriados” e aprovados pela Apple antes de serem disponibilizados na loja — sejam gratuitos ou pagos.
Alguns entendem que essa “falta de liberdade” da Apple — em não permitir a instalação de nada fora da loja — seja ruim. Outros (assim como eu) entendem que é uma questão de segurança e controle de qualidade, já que tudo é “vistoriado” pela Apple. É importante ressaltar que é possível quebrar esse “bloqueio” da Apple, fazendo um procedimento chamado de “Jailbreak” (uma espécie de “desbloqueio”) para burlar esse controle, descaracterizando o sistema operacional original e permitindo instalar qualquer aplicativo fora da loja oficial da Apple — o que não recomendo —, inclusive vírus e programas mal intencionados. Apple vive “fechando a porta” para que esse “desbloqueio” não seja possível, mas os hackers e crackers vivem descobrindo novas formas — é um eterno jogo de gato e rato.
Comparação
Para não ficar só na teoria, testei um (para a época: em 2013) bom tablet com Android, o Galaxy Tab 2.0 — de 7 polegadas, com Android versão 4.1.1 —, fabricado pela Samsung, pois há tantos modelos e fabricantes que facilmente pode-se comparar com algo muito inferior, como tablets de R$ 200 a R$ 300, alguns sem marca, fabricados na China e chamados de “genéricos” no mercado de informática (que, diga-se de passagem, já testei um desses também e me decepcionei em menos de 15 minutos).
Não vou entrar no mérito do tamanho da tela e do equipamento, pois o justo seria a comparação com um iPad Mini que também é menor que o iPad convencional. Comparando o desempenho do sistema operacional, digo que com o iPad raramente houve um travamento (nem me lembro quando travou antes). O tablet com Android, porém, travou algumas vezes, não como os genéricos, mas travou e alguns aplicativos encerraram-se sozinhos durante o uso — o que para uma pessoa com autismo pode ser motivo de grande irritação e tirar o foco da atividade; irritaria qualquer crianças, aliás. As configuração são mais complicadas no Android e é preciso entrar em vários menus para fazer coisas simples que no iPad se faz com dois ou três toques.
Tela sensível
Outro ponto muito importante — a todos, mas em maior potencial principalmente se tratando de pessoas com autismo — é a fluidez entre o toque na tela e a ação. No iPad, o casamento perfeito de hardware e software (equipamento e programa), ambos feitos pela Apple, é imensamente mais eficaz que no Android. O toque na tela raramente falha e a resposta é gigantescamente mais ágil. Considerando que muitos autistas precisam de uma rápida reação à ação para conectarem bem a causa à consequência, assim entendem melhor que aquele toque resultou em em tal reação, em tal movimento ou som. No Android, não foram raras os “engasgos” em diversos aplicativos. A bateria foi outro item bem superior do iPad. E, pensando no uso fora de casa, esse é um detalhe importante. A do iPad durou mais, cerca de 20% a 30% no meu teste.
Não avaliei outros itens de hardware ou de recursos que não julguei tão importantes para o uso com autistas, como por exemplo a qualidade da câmera fotográfica, acessórios, o desempenho do processador e o espaço para armazenamento interno — tenho um iPad 2 de 16Gb, o menor tamanho, e não tenho problemas; logicamente que desejo ter mais espaço e poder deixar mais filmes, livros e aplicativos instalados sem apagá-los, mas também não é um drama trabalhar com os 16Gb e apagar algumas coisas de vez em quando.
Opinião
Pela experiência do uso com meu filho, que está no espectro do autismo, hoje com 6 anos, o iPad é indiscutivelmente muito melhor e eficaz, por isso foco meus workshops (“Autismo + Aplicativos”) no uso com iPad. Porém, é muito importante lembrar que o autismo afeta as pessoas de maneira tão diferente — por isso há um grande espectro do autismo — que podem haver autistas que se dêem melhor com um tablet diferente do iPad, seja Android, Windows ou outro, assim com alguns se dão bem (ou até melhor) com o computador mesmo. Mas, sobretudo no trabalho com crianças, a esmagadora maioria certamente concordará com esta minha análise se testar Android e iPad.
Qual iPad comprar?
Aproveito para encerrar respondendo a outra pergunta frequente: Qual iPad comprar? E a resposta hoje é “qualquer um!”, pois o mais barato de todos (veja no site da Apple Brasil) vai atender ao uso com crianças (autistas ou não, com outras necessidades especiais ou não).